DANÇAR É...

“A dança é o caminho que permite ao corpo humano atingir o máximo de suas possibilidades, pois é o movimento trabalhado na esfera do ritmo.” Vsevolod Meyerhold

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Expressão do pensamento, costumes, cultura de um povo, tribo ou indivíduos que possuam interesses em comum, através do movimento ritmado.

Antes de usar a palavra, o homem já se servia de movimentos corporais e gestos para expressar-se, pressionado pelo ritmo natural de suas emoções.

Por ser uma das manifestações expressivas mais antigas do ser humano, pode ser primordialmente considerada selvagem (selvagem no sentido de ser inato). A expressividade não verbal caminha por lugares muito distintos das que se utilizam da racionalidade e/ou códigos pré-estabelecidos. A dança possui diretrizes condutoras que determinam seu estilo e atinge seu ápice quando conseguimos suprimir a técnica e apenas a utilizamos como base para dançarmos livremente. Dançar conecta  materiais contidos no consciente e no subconsciente de maneira fluida, permitindo acesso a emoções que de outra forma, não se manifestariam. A linguagem do corpo é sana, vital, faz com que a compreensão acerca de sua própria trajetória seja ampliada.

Quando qualificamos um estilo de dança como, por exemplo, a Dança do Ventre, são associadas determinadas imagens que ajudam a compor tal atmosfera. Originalmente - num plano mítico - as danças que executavam movimentos prioritariamente no quadril eram chamadas de danças pélvicas, e eram praticadas com um sentido mágico em rituais de cunho espiritual e social. Atualmente acredita-se que a Dança do Ventre tenha sido uma herança destas práticas.

No período das grandes civilizações, a dança perdeu seu potencial mágico de ação sobre os Deuses e a natureza, e passou a contar com o fator estético passando de dança-mágica para dança-arte. Mas ela nunca perdeu o seu caráter social, sendo assim manifestação de culturas:
· Oriente médio: mundo árabe que resiste até hoje
· Império Greco-Romano: hetairas e cortesãs
· Nova Zelândia: mulheres Maori
· Ciganos: gawazzi (Egito) cenji (Turquia) que dançavam como forma de subsistência.

Dentre tantas manifestações ao longo da história, as danças pélvicas se estabeleceram fortemente como linguagem cultural no Oriente Médio, passando a designar-se Raq's Sharqi.

É curioso pensar sobre como esta dança (que originalmente acontecia em diversas culturas) se manteve viva dentro da cultura árabe, com padrões estéticos contraditoriamente opostos aos seus preceitos e valores em relação à mulher¿

A cultura médio oriental notoriamente se delineia em rígidos códigos de conduta para a mulher. No entanto, sua dança representa um feminino provocante e sensual manifestado e aceito pela sociedade.
Em minha opinião é justamente aí que o contraponto entre a opressão e a necessidade de expressão se manifesta em sua força maior: a dança agindo como equilíbrio vital e ferramenta expressiva para as mulheres árabes. A Dança do Ventre hoje é considerada símbolo de entretenimento cultural no Oriente Médio, mas há outras funções importantes ligadas à arquétipos ancestrais que a DV preserva em sua essencialidade.

A Dança do Ventre rompeu barreiras culturais e  atualmente é uma linguagem própria que se relaciona muito mais com questões do feminino do que com um padrão cultural específico, ainda que sua origem seja ligada a ela. Uma das principais questões acerca do fenômeno da propagação mundial que a Dança do Ventre está inserida – sim(!) pois, em quase todas as cidades dos grandes centros urbanos se pode encontrar uma professora ensinando seus princípios - é justamente a busca pela manifestação dos arquétipos ligados ao feminino.

A Dança do Ventre transformou-se ao longo das últimas décadas num lugar onde a mulher contemporânea pode vivenciar com conforto e permissão sua liberdade, sua sensualidade, sua sexualidade, sua feminilidade e sua expressividade no campo do movimento ritmado, preservando de maneira saudável sua relação com o ritmo interno e a energia YIN.

A elevação da consciência para um estado sagrado, de presença e conexão, são as principais características que mantém a dança como instrumento vital para trabalhos corporais, seja num nível físico, social, emocional ou espiritual. E ainda por cima carregada de atmosfera oriental.

Atualmente observamos que a Dança do Ventre vem sendo praticada, reconhecida e de certa forma sistematizada enquanto técnica. É uma dança que:
1. permeia os campos do racional e intuitivo, mas seu apelo maior é no campo do emocional ;
2. tradicionalmente, em sua cultura de origem, mantém-se como técnica passada de mãe para filha;

O item 2 sugere uma tradição oral e por isso ainda não são divulgados amplamente métodos de ensino/aprendizagem formais, pautados em estudos ou teorias consagradas do movimento – sinestesia - pois cada professora desenvolve a "sua" metodologia de ensino, bem como cada bailarina a sua técnica.
Ainda, podemos dizer que se formaram linhas de abordagem distintas na Dança do Ventre, onde houve uma apropriação da técnica por diferentes culturas, sendo que, por exemplo, o ‘sotaque’ das egípcias transmite o pensamento, gestual, código pertencentes aquela cultura. Porém as americanas possuem o 'seu' sotaque, as australianas, as européias, as brasileiras.... E é por isso que existem controvérsias na nomenclatura dos movimentos, na forma de execução, etc.

Em se tratando do corpo da mulher, a Dança do Ventre vem paulatinamente sendo descolada de sua cultura de origem, e as mulheres que a praticam focam em questões diversas como: espiritualidade, misticismos, técnica, prática física, instrumento de sedução, ferramenta de auto-conhecimento e/ou relaxamento, mas sempre como forma de resgatar o feminino selvagem. Mesmo que inconscientemente.

O encontro entre mulheres principalmente em forma “círcular” propicia troca, contato, crescimento individual e coletivo. Os círculos de mulheres dançarinas fortalecem o feminino de maneira natural e harmoniosa. Promove a compreensão profunda dos sentidos inerentes ao fato de ‘ser mulher’. Assim, venha fazer uma aula experimental para conhecer e desenvolver sua dança juntamente com outras lindas mulheres como você! É necessário apenas sua força de vontade.

Sentir e perceber que seu corpo é o instrumento de comunicação com o externo é mágico. Ele é capaz de dar, receber e ser emotivo.

Texto: Adriana Cunha

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